Esse blog nasceu de um desejo profundo de homenagear essa incrível artista, Zélia Duncan... Aqui haverá sempre textos, músicas, letras, notícias, vídeos entre outras coisas sobre essa artista maravilhosa... Você é fã, gosta de suas músicas, acompanha a carreira da moça? Seja bem vindo (a)! Traga os amigos, puxa um banquinho, pega uma bebida e sinta-se em casa! Afinal, Amigo é casa!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Arranjo













Composição: Isabella Taviani e Zélia Duncan

Me escala, me nota, me harmoniza
Me canta, me escreve, me improvisa
Sou frase sua, me continua
Faz o contra-ponto
Cifra o caminho onde te encontro

Aprendo seu ritmo moderado com ímpeto
Me afino em acordes alterados
Pela manhã peço uma pausa longa
De longo efeito
E te beijo em silêncio

Me orquestra, me sola
\"Solamente una vez\"
Nesta canção que você fez






O vídeo abaixo é bem divertido! O making of da elaboração da música.. Vale muito assisitr!



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Oi pessoal!
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A qualidade desses vídeos abaixo não está lá aquela maravilha... Mas, para quem adora Zélia e as coisas que ela diz, será uma ótima oportunidade de conhecer um pouco mais sobre essa artista incrível... Essa entrevista já aconteceu há alguns anos e a conversa - entre Zélia e Gabi (mulheres inteligentíssimas) - é deliciosa... Espero que gostem! Bjs!
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Mart´nália e Zélia Duncan

sábado, 23 de outubro de 2010

Amigo é Casa

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Composição: Capiba / Hermínio Bello De Carvalho


Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
que constrói com arte a sua residência
há que o alicerce seja muito resistente
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá
e vigas de jatobá
e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá
cheínhos de sabiás
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
choro de imaginar!
pra festa da cumieira não faltem os violões!
muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre
aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
e que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
e altas platibandas, com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas
sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem
quando não tem, finge que tem,
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.




Release do Álbum "Pelo Sabor Do Gesto" (2009)

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Por que gravar um álbum inteiro em tempos sem tempo como agora? Pra que esse encarte lindo, com desenhos de Brígida Baltar e fotos tiradas em Santa Teresa por Emanuelle Bernard? E pra que complicar tudo, escolhendo dois produtores, um de Belo Horizonte (John Ulhoa) e outro de São Paulo (Beto Villares)?
As perguntas são muitas antes de gravar e depois de intensas angústias e incertezas, as respostas começam a pipocar, proporcionais às atitudes e coragens exigidas pela empreitada. Sim, mais um álbum. Porque ainda é como preciso me expressar. Ainda é a maneira de transformar a minha vida em algo que chegue até alguém. E também porque essa profissão maluca só se realiza em ouvidos alheios. E daí a certeza do nome deste trabalho, PELO SABOR DO GESTO. Afinal, comecei a cantar por intuição, porque era irresistível, porque sempre foi o que deu sentido pra mim. Portanto, a saga continua e pelo sabor daquele primeiro gesto em 1981, o show não pode parar.
Quem vai comprar, se vai comprar, se vai baixar, se vai pagar 3 reais numa esquina sem lei, com qualidade péssima, se vai ouvir as introduções com mãos nervosas, que sempre anseiam pela próxima faixa, bem, isso eu não sei, nem posso querer controlar. Mas sei que quem se interessar em adquirir, seguir as letras, ouvir os arranjos, conhecer os músicos e parceiros, vai ter alguns caminhos por aqui.
Dois produtores, porque me sinto aberta em várias direções e já dei milhares de sinais dessa abertura. Meu último trabalho autoral foi em 2005, o batalhado e mais elogiado da minha carreira, Pré Pós Tudo Bossa Band, que aliás, tinha três produtores. A turnê durou quase quatro anos, paralela a Mutantes e o trabalho com a cantora Simone, entre outras mil coisas que inventei pra mim nos últimos tempos.
Beto Villares trabalhou comigo pela primeira vez em Sortimento(2000). Me foi apresentado por Herbert Vianna, no lançamento de O Som do Sim, no qual havia trabalhado duas faixas. Beto me traz sempre um tom arrojado e inesperado em seus trabalhos comigo. E São Paulo é fornecedora sem fim de músicos de todas vertentes e regiões, isso traz muita originalidade para as interpretações e sonoridades, além dele mesmo ser um músico que se joga sem rede de segurança nas canções e sai tocando desde piano, violão, guitarra, ukulele, até o tal do guitaron, cuja afinação oficial niguém ali sabia direito e nisso estava todo charme daquele som de corda frouxa e graves absurdos, que se ouve na faixa Duas Namoradas(Itamar/Alice Ruiz), por exemplo. Beto também deita e rola nos sons do mellotron de verdade que existe em seu estúdio. Se trata de um vovô sampler, daqueles usados por George Martin em arranjos dos Beatles, um som cultuado hoje em dia , justamente por ter esse renovado gosto vintage, que tanto nos fascina atualmente. Beto Villares é um cara sofisticado em suas escolhas e no jeito de ver a música e esse olhar tem sido muito importante pra minha vida, desde que nos conhecemos.
John Ulhoa, sim, o John do Pato Fu, sim, o marido da queridíssima Fernandinha Takai, é ele mesmo. Saibam de uma vez por todas, esse cara é um grande produtor. John ficou com as faixas que considerei mais pop’s a princípio. Na verdade foi de novo um lance mais intuitivo do que qualquer coisa e quando ouço o resultado, tenho certeza de que acertamos nessa divisão do repertório pra cada um. John tem capricho, cuidado, espontaneidade e graça nos arranjos. Ele é um cara muito específico nos seus gostos e decisões musicais, isso significou uma liga incrível e poderosa para cada faixa. John me trouxe frescor, leveza e até uma doçura que fizeram muito bem ao resultado geral do trabalho. Eu comecei o disco com ele, em Belo Horizonte, na paz de seu estúdio feito nos fundos de casa, porém nada caseiro em termos de som e qualidade. Através dele conheci três músicos novos, literalmente: Mariá Portugal (bateria), Thiago Braga (baixo) e aquele que além de ter se tornado meu parceiro, tocou também na fase de São Paulo, Marcelo Jeneci. John também é um músico que não se intimida com instrumentos, tocou sua guitarra característica, rítmica e com aquela mão direita que grita certeira nas bases, bem como violões, bandolim, programações, brinquedos e teclados. John é sério e lúdico, um observador afiado das idiossincrasias próprias e alheias, o que faz dele um cara divertido e comovente.
Beto e John são amigos, se admiram. Beto já produziu um álbum do Pato Fu, isso tudo fez com que eu tivesse mais certeza de que daríamos um jeito de tudo soar natural quando as faixas se misturassem na masterização. E soou.

As Parcerias

Há muitas parcerias inéditas e mesmo inesperadas aqui, como as duas versões que fiz de canções que fazem parte da trilha sonora do filme Lês Chansons d’Amour, do cantor e compositor francês, Alex Beaupin. Uma abre o disco, Boas Razões, num clima meio western, com participação especialíssima de Fernanda Takai.
A outra batiza o trabalho, Pelo Sabor do Gesto, que ganhou do John um arranjo quase lírico, com cordas e bandolim, entradas e saídas de som, que vão ornando a letra e se revelam muito emocionantes. No filme, dois personagens discutem o amor passageiro e o amor que dura. Optei por uma versão de apenas uma pessoa, que reflete sobre o tema.
Fui arrebatada por esse filme no segundo semestre de 2008 e me veio a vontade de trazer isso comigo. Foi um longo caminho até conseguirmos as autorizações, mas deu certo, tinha que ser.
Consegui reunir parceiros que admiro faz tempo e que fazem parte da minha geração com força, como Chico César , Zeca Baleiro e Moska.
Zeca me mandou uma letra tão linda (Se Um Dia Me Quiseres ,sem saber que eu quase não faço melodias...então eu fiz! Não podia perder a possibilidade de ter aqui palavras que me tocaram tanto. Ela tem um clima meio misterioso e uma levada singular de Érico Theobaldo na bateria.
Com Chico é Esporte Fino Confortável, um funk brasileiro, suingado e brincalhão. Chico foi me visitar no estúdio e claro, foi capturado nos vocais! Jeneci belisca o teclado wurlitzer, enquanto Antonio Pinto(bateria), Ryan(baixo) e Beto(violão), dão conta do resto.
E fechando esse trio de contemporâneos mais próximos, meu já parceiro e aqui mais uma vez comigo, Moska em Sinto Encanto. Esta, um pouco mais filosófica, traz quase que uma idéia central do disco e do que significa o ato de cantar pra mim. A base é viajante, violão, guitarra, baixo e uma percussão que apenas se insinua, envolvem e flutuam junto com a letra.
Entre as surpresas, Dante Ozzetti, conhecido compositor, violonista e arranjador paulista, parceiro de Luiz Tatit, assina comigo a atmosfera intrigante de Se Eu Fosse, letra que enviei ano passado e me voltou em forma de música, sem que nada fosse mudado. Sempre fui fã de Dante e seus caminhos musicais. Na composição ele já sugeria a linha de baixo que seguimos também com a voz. O arranjo foi saindo das mãos do Beto com extrema naturalidade, a letra sugere um passeio pelos gêneros musicais, mas musicalmente ela é diferente, fala por si mesma, tem um sotaque paulista com o qual me identifico muito.
Quando decidi convidar John para produzir algumas faixas e já gostando tanto dele como autor, mandei também uma letra, que ganhou o nome de Tudo Sobre Você, uma balada que inaugura nossa parceria que apenas começa. Com direito a especial com baixo acústico, banjo e assovio, é talvez a música mais divertida de todas e traz o elemento folk, tão natural pra mim, na comissão de frente.
E então, aos 46 do segundo tempo, enviei uma letra pro meu novo amigo, Marcelo Jeneci e fizemos Todos Os Verbos, canção que se integrou e completou o repertório de forma suave e bem-vinda. Cheia de mellotrons (sax, flauta, trompa), ela parece que saiu de uma caixinha de música antiga, tem uma atmosfera retrô embora soe moderna.
Único que assina duas faixas comigo é Edu Tedeschi ,outro paulista que conheci na platéia de um show. Tem personalidade e firmeza pra compor, uma surpresa muito agradável na minha vida. Aberto já está na rede há algum tempo com outro arranjo, feito por Ézio Filho e minha banda, para virar um divertido clip, no estilo feito em casa, dirigido por Ana Beatriz Nogueira. O arranjo do disco é mais suave e soa mais acústico. Nem Tudo ganhou a nobre função de encerrar os trabalhos. Aqui o arranjo de John tem grande importância inclusive para o resultado da composição. Com jeitão pop George Michael e uma letra de paradoxos, ela vibra no final da audição e deixa a porta escancarada, nem tudo que acaba aqui deixa de ser infinito.

Regravações

São três.
Telhados de Paris, de Nei Lisboa, importante compositor gaúcho. Guardei essa canção por muitos anos, tocava no quarto, nas passagens de som e resolvi que já era hora de um registro. John fez um arranjo irresistível, meio mântrico, não imagino mais de outro jeito.

Os Dentes Brancos do Mundo, de Marcos e Paulo Ségio Valle, essa dupla incrível de autores de músicas lindas e importantes. Conheci na voz deliciosa de Evinha, uma gravação do final dos anos 60, arranjo épico, lindo, cheio de orquestra e instrumentos que entram e saem. Eu e Beto optamos por um arranjo mais cru, deixamos a canção falar por si, é um momento mais vazio e muito macio do disco.

Ambição, de Rita Lee, era uma música de novela (O Astro), em 1978. Mais tarde Rita regravou com uma outra letra, eu optei pela original, que adoro e considerei valer muito à pena relembrar uma balada irresistível como essa. John pensou em homenagear Ovelha Negra, com uma sonoridade bem rock n’roll, baixo, batera, piano acústico, guitarra, fizemos alguns vocais e muita, muita alegria de ter essa no repertório.

Uma inédita de Itamar Assumpção e Alice Ruiz, Duas Namoradas suinga nas congas de Maurício Alves e no guitaron disfarçado de baixo de Beto Villares. Ainda muitos vocais e mellotron, ficou um charme, como merece essa deliciosa descoberta.

Um disco novo e tão acompanhado de perto como esse está sendo, é sempre um acontecimento delicado e maravilhoso na vida de uma cantora. Tem gente dizendo que estou mais suave, outros que mais romântica, outros ainda que é a maturidade, eu acho graça...me sinto sempre começando.



Zélia Duncan

Chega Disso*

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Capa do dvd Pré Pós Tudo Bossa Band, de Zélia Duncan

Composição: Alzira Espíndola E Arruda
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Chega dessa chaga,chega dessa forma,dessa farda
De qualquer forma chega,desse trauma de ser Cristo
Vira o disco, chega deixa disso,chega.
Desse luto nega,chega junto muda de assunto
Chega desse "sinto muito"
De tanta sala fechada
Tanta fala calada,tanta água parada
Nega chega de chá, enxagua, chega de só, sofá.
Deixa o sol chegar, chega que chega já
Chega de será? Que será?
Chega com tudo,vem com tudo
Chega se aconchega, dessa nada! Chega!
Desse pobre horário nobre, desse porre
Nega chega!
Desse morre, não morre!
Chega de socorro,me socorre!
Desse morre não morre!
Chega de socorro, se socorre!
De tanta sala fechada
Tanta água parada, nega
!


* Essa música não é de autoria de Zélia Duncan, mas, essa canção está no dvd Pré Pós Tudo Bossa Band, de Zélia... Dvd maravilhoso... Lindo!


Zélia Duncan e Luiza Possi

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Se Eu Fosse

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Composição: Dante Ozzetti Zélia Duncan

Se eu fosse um blues,
te mandava embora
Se eu fosse um samba,
esperava a aurora
Se eu fosse um jazz,
improvisava o amor
Se eu fosse um forró,
sacudia toda dor
Se eu fosse uma valsa,
te conduzia pela vida
Se eu fosse um tango,
te empurrava pra saída
Se eu fosse um rock,
te doava minhas veias
Se eu fosse um choro,
te sorria a noite inteira
Se eu fosse um maxixe,
remexia sua libido
Se eu fosse uma canção,
te acarinhava os ouvidos
Se eu fosse uma modinha,
jurava que você vinha
Se eu fosse um Sebastian Bach,
tentava a fuga todo dia
Se eu fosse um Beethoven,
era tua a Nona Sinfonia
Se eu fosse letra de música
Fazia uma rima única
E no final de um verso chinfrim
Cantava você pra mim…
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Momentos de Zélia no Som Brasil


Preciso Aprender a Ser Só
Homenagem (cantando com ele no vídeo) a Marcos Valle


* * *

Eduardo e Mônica - Homenagem a Renato Russo
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Canção da América - Homenagem a Elis Regina

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Não Vá Ainda

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Composição: Christian Oyens / Zélia Duncan

O que você quer?
O que você sabe?
Não é fácil prá mim
Meu fogo também me arde
Às vezes
Me vejo tão triste...

Onde você vai?
Não é tão simples assim
Porque às vezes
Meu coração não responde
Só se esconde e dói...

Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda...

Me diga como você pode
Viver indo embora
Sem se despedaçar
Por favor me diga agora
Ou será!
Que você nem quer perceber?
Talvez você
Seja feliz sem saber...

Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Não, não vá ainda...

Por favor não vá ainda
Espera anoitecer
A noite é linda
Me espera adormecer
Não vá ainda
Espera anoitecer...





Todos Os Verbos

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Composição: Marcelo Jeneci / Zélia Duncan

Errar é útil
Sofrer é chato
Chorar é triste
Sorrir é rápido
Não ver é fácil
Trair é tátil
Olhar é móvel
Falar é mágico
Calar é tático
Desfazer é árduo
Esperar é sábio
Refazer é ótimo
Amar é profundo
E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo
Abraçar é quente
Beijar é chama
Pensar é ser humano
Fantasiar também
Nascer é dar partida
Viver é ser alguém
Saudade é despedida
Morrer um dia vem
Mas amar é profundo
E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo.




segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Maria Bethânia e Zélia Duncan - Baila comigo / Shangrilá

Felicidade

Zélia Duncan no Programa do Jô...

Entrevista "Agenda" GloboNews Parte 1

Entrevista Com Zélia Duncan

GarotaFM No Camarim

Vi, Não Vivi

Pagu - Com Rita Lee

Saudade do Sábado Que Vem


Em outubro de 1975 eu pedi um disco de aniversário, o primeiro que seria finalmente só pra mim, pois, numa casa de classe média, onde os filhos são quatro, há uma fase em que fica difícil de se delimitarem territórios e pertences. Ele me foi entregue num papel azul, lindo, aquele quadradão fininho, com o peso ideal, verdadeiro passaporte da imaginação, O PRIMEIRO VINIL A GENTE NUNCA ESQUECE!! Rasguei o papel sem piedade, como faço até hoje, e lá estava ela, plácida, num vestido claro de caimentos vários, sentada numa poltrona, cigarrilha na mão direita, sandália amarrada na perna e o pé pousado sobre um teclado, com aquele olhar de flecha certeira, que já conhece bem seu alvo. Pra quem ainda não decifrou, estamos falando de Rita Lee&Tutti Frutti e do disco "Fruto Pribido". Acho que foi a primeira vez em que pensei que existia um tempo em que eu vivia e na necessidade de se ter uma opinião sobre as coisas.
Esse meu tempo foi passando e Rita Lee foi significando pra mim uma marca indelével de liberdade, irreverência, musicalidade, rebeldia, sinceridade e inteligência. Tudo ligado por um humor tão absolutamente identificado com nosso cotidiano, que a transformou, a meu ver, numa das artistas mais brasileiras do nosso tempo. Tenho lembranças vitais de vê-la com João Gilberto, por exemplo, cantando Jou Jou Balangandãs, prenúncio de um projeto futuro, chamado "Bossa'n roll", que arrebatou o Brasil. Com Caetano, cantando "Mamãe Natureza num estádio lotado. "Refestança" com Gilberto Gil. Dançando "Baila Comigo" com Ronaldo Resedá. "Minha fama de mau " com Erasmo Carlos. Brincando com Elis em "Doce de pimenta", esfregando sua alegria e sua música na amargura daqueles anos complicados. "Domingo no parque", Rita Lee pra sempre.
Para os super jovens, que já amam Rita Lee e não sabem ao certo onde tudo começou, ela estava ali com "Os Mutantes", por perto de Gil e quando a Tropicália enfiou o pé na porta, ela também passou lindamente, pra fazer o dela. Única. Uma espécie de Chiquinha Gonzaga do rock, com seu poderoso "abre-alas" a serviço do pop falado na nossa melhor língua afiada.
Feito este pequeno resumo, talvez alguém consiga imaginar como me senti ao ser convidada para dar uma "canja" com ela no Metropolitan, próximo sábado (19)... Primeiro fiz aquele silêncio, depois fiquei rodando pela casa, cantando "não sei se eu estou pirando ou se as coisas estão melhorando". Minha secretária eletrônica , depois de registrar aquela voz de Rita Lee, foi promovida a diretora artística eletrônica da minha casa e por favor, esta semana, me poupem. Não quero saber de notícias estranhas, pressões ou maledicências. Nada que estrague minha alegria, porque sábado tem Rita Lee e aquele momento vai ficar armazenado no compartimento dos "best-ofs" da minha estória pessoal. Parece mentira, mas já morro de saudade do sábado que vem!

Zélia Duncan


(Texto publicado no JB - 18/12/98; o show se realizou no Metropolitan no dia19 de dezembro)



Eu no Espaço


Falar de música? Hum…hoje não, seria tão óbvio para uma estréia. Desde que me ofereceram este espaço, fiquei com uma bolha no pensamento, um eco, uma liberdade escravizante. Como assim, fale do que quiser?. Então percebi que o que estava me causando o impasse era o espaço em si e a importância que isso tem na vida da pessoa.

Usamos tanto essas expressões: você está invadindo meu espaço, ou a clássica, esse espaço é pequeno demais para nós dois, aquela que parecia adolescente, mas que nunca nos deixa, eu preciso conquistar o meu espaço! Através do meu site, `as vezes ela vem em meio a uma verdadeira praga, você um dia também precisou de ajuda pra encontrar seu espaço…Mas gente, calma aí, isso é algo tão pessoal, uma decisão tão intransferível essa de ter um espaço! Antes de mais nada, só você sabe que diabo de espaço é esse a ser conquistado e que vai te satisfazer.

E há tantos tipos de espaço. Desde espaço no ônibus, na platéia, no restaurante, até seu ninho, sua palavra, sua presença no mundo, pelo menos no mundo que você escolheu. Escolheu? Em caso negativo, não precisa se sentir tão mal, pois saiba que a síndrome de quem já escolheu e até conquistou seu espaço também existe. A pessoa defende tanto aquilo que chama de seu espaço, que não consegue nunca mais sair dele, fica enclausurada no que antes era espaço e que se tornou uma clausura asfixiante. Algo como um artista que nunca aceita riscos e acaba fazendo sempre a mesma canção, por exemplo... Ops, música hoje não!

Esse exemplo acima me fez lembrar de um texto do Rilke, do livro Cartas a um jovem poeta, onde ele fala algo assim: se imaginarmos a existência humana como um quarto escuro, perceberemos que usamos apenas um cantinho desse quarto, pois ali nos sentimos seguros, e deixamos de explorar o resto, onde pode realmente estar a possibilidade de uma expansão verdadeira, portanto, muitas vezes, nós mesmos viramos um espaço desperdiçado.

Há ainda o espaço entre as pessoas, esse que tentamos transpor de tantas maneiras e é trabalho pra uma vida inteira. Então juramos ser metade de um amor, por exemplo, que só se completa no outro, como se fosse possível ser um, quando metade de nós é outra pessoa! Qualquer coisa pra não admitir a distância, o espaço intransponível e misterioso de ser único no mundo.

Mas isso também pode ser tão maravilhoso! Somos únicos, singulares, sozinhos e essa é nossa maior afinidade, o que diminui o espaço entre nós, nos tornando iguais. Não é uma espécie de conforto saber disso? Não nos aproxima finalmente?

Então vou entrar num acordo comigo. Este aqui vai ser um espaço de procuras, de questões, muito mais que de respostas. De refletir um pouco sobre as coisas, se emocionar com outras e, por que não, jogar uma conversinha fora vez em quando, que ninguém é de ferro!?


Zélia Duncan
Site Click21 Colunas
26/06/05


Alma

GarotaFM: Zélia Duncan interpreta 'I Love You', de Roberto Carlos (1971)

Quem Me Olha Só - Zélia Duncan

domingo, 17 de outubro de 2010

De onde Vem Os Bebês?

Quando parei pra pensar de onde eu vim, me veio à cabeça aquele livrinho que atormenta um pouco nossa pré-adolescência, aquele com uma cegonha desenhada, ela tem um ar orgulhoso e carrega no bico uma trouxa gordinha. Logo abaixo se lê aquela pergunta fatal, em letras garrafais: DE ONDE VÊM OS BEBÊS? Acho que a cegonha que me trouxe, certamente reclamava do excesso de peso, pois éramos eu, um CD player e um violão.
Nasci em Niterói no dia 28 de outubro de 1964, onde vivi até os seis anos de idade. Em 1971, eu e minha família nos mudamos para Brasília, onde passei os dezesseis anos seguintes. Comecei a cantar profissionalmente em 1981, na saudosa Sala Funarte, que na época abria concorrência para que artistas novos se apresentassem. Mandei uma fita caseira, que me rendeu um primeiro lugar e uma opção de vida definitiva. Nunca mais parei desde então.
A abertura do show era com uma música do Milton Nascimento, chamada "Fazenda" e o repertório se desfolhava por aí. O show teve uma repercussão muito boa pra mim naquela época, comecei a trabalhar em vários espaços e através da mesma Funarte, me apresentava ao lado de artistas que vinham de fora, até que, após abrir um show de Luis Melodia, no Teatro Nacional de Brasília, fui selecionada para representar Brasília no projeto Pixinguinha, no elenco de Wagner Tiso e Cida Moreyra. Viajamos por sete cidades e eu pude, pela primeira vez, cantar fora de Brasília para pessoas que eu nem sonhava em conhecer. Minha carreira "candanga" começava a querer se expandir um pouco. Brasília, além de me proporcionar um certo surrealismo no seu dia-a-dia de cidade pretensiosamente planejada, me deu oportunidade de realizar trabalhos extremamente profissionais, com músicos especialmente sensíveis, com que aprendi e apurei os ouvidos!
Aos  22 anos encontrei o caminho de volta para o Rio. Comigo vieram meu amado fusquinha branco (roubado um ano depois), uma relativa experiência e uma vontade imensa de cantar. Cursei a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) por um ano e meio, paralelamente montei meu primeiro show por aqui, a formação era interessante, guitarra, baixo acústico e clarinete. O repertório começava a mudar também, era algo entre Itamar Assumpção, Caetano Veloso, Beatles, Police e umas inéditas de outras pessoas. Descobri o prazer de cantar em inglês e procurar músicas brasileiras mais inusitadas, que não tivessem interpretações muito óbvias, e isso me deu uma liberdade essencial.
No final de 1989, conhecia a diretora de teatro Ticiana Studart, que estava então chegando de Nova Iorque com idéias que vinham ao encontro dos meus planos de fazer algo mais arrojado e irreverente. Os recursos eram caóticos e as idéias jorravam mais a cada dia. Muito bem, produzir é um caos, os espaços são um caos, a violência é um caos, o isolamento cultural é um caos, já tínhamos o repertório e o nome do show: "Zélia Cristina no caos"!! Conseguimos tudo, figurinista, iluminador, técnico de som, banda maquiador e público!!!
Embora ainda correndo à margem da grande mídia, sem críticos ou chamadas na TV, o resultado foi muito recompensador. Da Laura Alvim fomos para o Mistura Fina, ambos com lotações esgotadas, e tive a visita de alguém do Estúdio Eldorado, que me convidou para, enfim, gravar um disco. Pouparei os detalhes desta etapa, o mais relevante é que, com um disco que era 30% do que se poderia fazer, tive duas indicações para o prêmio Sharp, como revelação e melhor cantora pop-rock e o prazer de dividir uma faixa com Luís Melodia. Mas o show continuava sendo a parte que melhor me retratava e, com a ajuda da Eldorado e de uma empresária, cantei em São Paulo (Crownie Plaza), Porto Alegre, Florianópolis, Brasília e Teatro Ipanema. Participei de vários programas de TV, acho que os mais interessantes foram: Jô Onze e Meia, Programa Livre, que na época não passava no Rio, Vídeo-Show e Metrópolis. Foi um ano intenso e estimulante por um lado, mas por outro, o disco estava longe de se parecer comigo, não havia continuidade.
Em outubro de 1991, desavisadamente, atendi a um telefonema que mudou minha vida para sempre. Alguém me chamava para cumprir um contrato de três meses nos Emirados árabes: O QUE??? EMIRADOS áRABES??? Duas semanas depois, em meio aos bombardeios pessoais que me atingiam, eu pousava no Oriente Médio. Da janela do avião só se via areia, areia, e eu me perguntava, será que os camelos apreciam boa música? Bem, os três meses viraram cinco, cinco meses de desafio e prazer absoluto de estar fora, na maioria das vezes, cantando para pessoas que não entendiam uma palavra do que eu dizia. Eram árabes, europeus, australianos, meu Deus, então essa gente existe mesmo? Foram meses fundamentais pra mim, como uma fase de crescimento, onde tudo é aproveitado.
Fazíamos shows diariamente, minha única preocupação era deixar clara a força que nossa música tem. Durante o dia, era hora de esticar os olhos e ouvidos, uma espécie de estado de alerta, a qualquer momento um daqueles tapetes persas poderia sair voando, e eu, é claro, estaria bem em cima dele! Importei meu violão folk (finalmente!) e, além de ficar ouvindo os sons orientais, me encontrava também com influências super cultivadas, como Joni Mitchell, Joan Armatrading, Sam Cooke, Ry Cooder e Peter Gabriel. Escrevia o tempo todo e passei a mandar letras para meus parceiros, "O Meu Lugar", por exemplo, foi escrita em Abu Dhabi.
A viagem reforçou minha personalidade em todos os sentidos, como separar a experiência artística da experiência pessoal? Voltei para casa em maio de 1992, e sabia que não era a mesma, não queria interferência nem falsos parâmetros, só pensava em retomar o trabalho, fazer um som mais acústico e, finalmente, cantar mais músicas minhas. Mais uma banda montada, fiz uma temporada no Torre de Babel que acabou se estendendo mais do que eu imaginava e me deu um presente, uma recompensa, a presença de Guto Graça Mello, que eu só conhecia de nome e de tanto as pessoas sussurrarem no meu ouvido, "Guto Graça Mello tá aí!" Que bom, Guto estava lá e me levou com ele. Começamos a gravar sem compromissos, ele me soltou no estúdio e eu me sentia carinhosamente observada.
Num belo dia de chuva, fui convidada por Almir Chediak a gravar uma faixa do Songbook de Dorival Caymmi, com Marco Pereira, no estúdio Sinth. Era um dia especial e eu estava muito feliz. Quando saí do aquário, Almir se voltou para mim e perguntou: "Você conhece Beth Araújo, da Warner?". Eu disse: "Não, muito prazer". Resposta: "Prazer, você já tem gravadora?". Era uma maneira tão direta que chegava a ser desconcertante para mim. Bem, as coisas foram se encaixando de maneira surpreendente e tranquila. Batalhei pela sorte e ela mostrou a cara, acho que já era tempo.

Zélia Duncan

Texto escrito em 1994, por ocasião do lançamento do primeiro álbum pela WEA.