Esse blog nasceu de um desejo profundo de homenagear essa incrível artista, Zélia Duncan... Aqui haverá sempre textos, músicas, letras, notícias, vídeos entre outras coisas sobre essa artista maravilhosa... Você é fã, gosta de suas músicas, acompanha a carreira da moça? Seja bem vindo (a)! Traga os amigos, puxa um banquinho, pega uma bebida e sinta-se em casa! Afinal, Amigo é casa!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Sítio de Tio Otto

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Tio Otto era um cara caladão e, das duas uma, ou tinha um meio sorriso-quase-inteiro no rosto, ou parecia meio sonado, com aquele olhar um tanto caído, fixado num ponto qualquer, como se fosse dormir a qualquer momento. Marido da saudosa tia Filhinha, irmã da amantíssima vovó Zélia (a verdadeira Duncan!), os dois formavam o casal mais bucólico da família. Ele muito alto, especialmente na minha lembrança infantil, devia medir mais de 1,90 metro e passava brilhantina no cabelo que lhe restava na parte de trás da cabeça. Já ela, tia Filhinha, era pequenina, sempre de coque, muito ativa, nos impressionava quando ao lavar os cabelos, os esticava com a escova, deixando ver seu cumprimento pra lá do ombro, feito um pequeno tapete de algodão.
Pois bem, tio Otto tinha um sítio em Sacramento, RJ, mais ou menos perto de Niterói, nossa cidade natal. Esse lugar, embora eu tivesse entre quatro e cinco anos, representou pra mim e meus dois irmãos mais velhos material pra muita diversão e fantasia. Ele passava pra nos buscar em seu Austin, carro inglês charmoso, originalmente bege, que mandou pintar de verde-piscina porque seria uma cor mais alegre. Ele dirigia muito mal, mas o percurso sempre deu certo. A casa não era enorme, mas tinha aquele ar de fazenda. Uma varanda gostosa que a circundava e um jardinzinho interno, onde certa vez meu irmão Luiz Otávio achou uns ovinhos de lagartixa e colocou-os no bolso virando, claro, uma chocadeira. A experiência causou certo nojo nos adultos mas muita admiração nas crianças.
Um dos empregados, seu Orlando, me levava pra alimentar os porcos. Eu adorava o cheiro daquela ração. Era uma farinha à qual ele adicionava água, ia apertando com a mão e eu o ajudava, pois fazia parte da minha missão. Depois que a papa ficava pronta dentro daquele balde de alumínio, despejávamos nas vasilhas e lá vinham eles, com seus narizes de tomada e seus roncos alegres. Até hoje não sei por que minha mãe gritou tanto quando adentrei a cozinha com um filhotinho malhadinho, branco e preto no colo. Numa dessas idas ao chiqueiro, pisei num formigueiro de formigas ruivas, que subiram por minhas pernas, me picando como doidas. Foi um deus-nos-acuda e até hoje tenho enorme respeito por esses insetos de fogo.
No sítio conheci o que eram amoras, embora nunca mais tenha encontrado outras como aquelas. Na amoreira, cada um tinha seu galho, (como na canção!), o meu era um dos mais baixos, claro, e tia Filhinha ficava com uma bacia d'água na mão para receber as frutinhas, que eram lavadas e nos esperavam na descida. Nossa, como a vida pode ser plena e simples de vez em quando. As noites eram bastante movimentadas. Havia um tio que juntava todo mundo na varanda e dizia: "Quem tem coragem de ir comigo até a curral, correndo o risco de eu virar monstro?" As crianças ficavam petrificadas mas os meninos sempre se sentiam na obrigação de fazer alguma coisa. As estórias sobre espíritos e mulas-sem-cabeça ficavam tão palpáveis que quase podíamos enxergá-los escondidos atrás das moitas escuras.
Jejé era personagem muito importante do sítio. Uma fox terrier já bem gasta, parecia uma turbininha gorducha e era parideira das boas. Ela tinha também uma outra peculiaridade. Certamente pelos freqüentes períodos de gravidez e considerável aumento de peso, desenvolveu um problema crônico de coluna. Como todo cão companheiro e amado implorava por carinhos. Porém, sentia dores terríveis e uivava de sofrimento ao recebê-los! Ah, querida Jejé, depois entendi que, quando se recebe carinhos, os riscos de dor também existem e fazem parte desse prazer.
As coisas estavam todas ali para serem descobertas. Nunca vou esquecer quando o pavão abriu seu leque pela primeira vez pra mim. Meu Deus, que explosão, que extravagância para um olhar virgem de criança. O sítio de tio Otto e tia Filhinha era essa ponte, esse oásis que até hoje refresca, não sem uma certa dor (e aqui penso em Jejé), mas que vai sempre nos acompanhar como um sonho, um presente que um dia a vida nos deu.

PS. Agradeço aos queridos Afonso e Luiz Otávio, irmãos e heróis daquele tempo, que me ajudaram a lembrar de alguns detalhes fundamentais!


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Bom Pra Você

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Composição: Christiaan Oyens e Zélia Duncan

Faça o que é bom
Sinta o que é bom
Pense o que é bom
Bom pra você!

Coma o que é bom
Veja o que é bom
Volte ao que é bom
Bom pra você!

Guarda pro final
Aquele sabor genial
Se é genial pra você!
Tente o que é bom
Permita o que é bom
Descubra o que é bom
Bom pra você!

Então beije o que é bom
Mostre o que é bom
Excite o que é bom
Bom pra você!

Um dia você me conta
Um dia você me apronta
Um resumo
Do supra-sumo do seu prazer
Um resumo
Do supra-sumo do seu prazer

Pese o que é bom
Perceba o que é bom
Decida o que é bom
Pra você
Decida o que é bom pra você...